Um dia fui trabalhar em uma empresa na função de auxiliar de vendas de marcas e patentes. Gente, confesso, esse negócio de registrar o nome de uma empresa, se não outra poderia copiar ou registrar, causava uma confusão tremenda na minha cabeça, eu não entendia por que isso era permitido já que a empresa tinha o tal do CNPJ. Peraí… O que era CNPJ mesmo? Assim entendi que era um número de identificação de uma empresa como se fosse o nosso CPF, nesse tal cartão CNPJ tinha o nome da empresa e a marca fantasia que era igual a razão social da empresa, então por que diabos tinha que registrar nesse INPI de novo? Meu Deus, socorro, tinha também a tal atividade que tinha que ser compatível com a NCL que estava no classificador de Nice, pelo amor de Deus, quem é NICE? Eu só pensava no dia em que eu ia conhecê-la para perguntar por que raios ela tinha criado essa NCL!

A Classificação de NICE é uma classificação internacional de produtos e serviços que determina a área de atuação das marcas. Então, quando se realiza o pedido de registro de marca no INPI, é necessário indicar quais produtos ou serviços a marca visa a proteger.

Enfim, a NICE nunca apareceu (rsrsrsrsrsr) e eu tive que aprender na marra como funcionava todo o processo de registro no INPI, mas antes disso eu fiquei sabendo que a minha carta de demissão estava na gaveta da minha supervisora, aguardando chegar a data do término do contrato de três meses de experiência. Aí a coisa ficou complicada porque eu precisava muito daquele trabalho, meu segundo filho do meio era um bebê, meu marido estava desempregado e para piorar, o apartamento onde morávamos estava com as prestações e condomínios atrasados, situação triste, amigos! Mas, como Deus existe, era mês de novembro e haveria dois feriados, aí eu perguntei para a supervisora se ela me permitia levar os papéis para casa para que eu pudesse organizá-los, e ela permitiu.

Nesse intervalo uma auxiliar de vendas que já trabalhava nessa empresa há muitos anos me chamou e calmamente me explicou todo processo. Ela me deu o seu caderninho com todas as anotações de como funcionava tudo nesse INPI. Um dia antes do feriado levei tudo para casa. No dia seguinte coloquei todos os papéis na mesa e fiz a leitura de um por um, eram muitas fichas com resumo e informações de todas as ligações que eu havia feito naquele período de quase três meses, separei os contatos dos clientes que haviam me dado a esperança de fazer o tal registro, as fichas daqueles que disseram que iam pensar sobre o assunto e daqueles que iam conversar com seus sócios. Depois de tudo separado, fui ler as anotações da Patrícia (a moça dona do caderno). O jeito que ela escreveu o processo me fez entender claramente que uma empresa precisa contratar um contador para fazer o contrato social que é o documento de constituição no qual irá constar o nome empresarial, os dados dos sócios, endereço, sede, administradores, objetivo social, que é a atividade da empresa e outras informações necessárias. Em seguida o contador faz o pedido na receita federal do CNPJ que é um documento tão importante quanto o contrato social porque com ele permite a emissão de notas fiscais, é por meio dele que se recolhem os impostos, abre conta jurídica etc.

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI é o único órgão no Brasil que registra a marca fantasia,  que pode ser também a razão social da empresa,  porém, quando a empresa tem esse registro, ela passa a ter exclusividade desse nome/marca em todo território nacional e pode proibir outras empresas de usarem um nome igual ou parecido dentro do mesmo segmento/ atividade.

Aí o mistério da Nice estava desvendado. Ufa! 

Quando eu entendi a importância de uma empresa ter o direito de divulgar sua marca nas redes sociais, Google, fachada, uniforme, jornal, revista, ou seja, em qualquer lugar com exclusividade, ficou fácil explicar para o meu futuro cliente que se ele não fizesse o registro no INPI, ele poderia perder a marca da empresa para a concorrência,  ele corria o risco de  perder todo investimento feito para tornar o negócio dele conhecido, ele perderia as redes socias e o site que, atualmente, são as principais vitrines de vendas, ele perderia a credibilidade porque ao mudar o nome da empresa ele despertaria uma tremenda dúvida na cabeça dos clientes sobre o verdadeiro motivo daquela repentina mudança de nome,  e nesse momento, infelizmente ele perderia muitos clientes!

Bom, eu voltei do feriado já quase uma perita em marcas e patentes e falei para os clientes sobre quanto custaria a eles perder sua principal vitrine de vendas. Com esse alerta fechei muitos contratos, naquele mês de novembro de 1998, minha carta de demissão foi substituída pelo registro na minha carteira, uhuuuuuuuuuu, eu permaneceria empregada!

Nessa empresa trabalhei por alguns anos, contudo, havia algumas inverdades ditas aos clientes que me incomodavam e eu decidi sair para trabalhar em outra empresa, confesso que me arrependi muito, porque nessa outra empresa os vendedores diziam aos clientes que a marca deles estava em vias de ser registrada por outra empresa de tal lugar e como eles eram mais antigos no mercado teriam a preferência ao registro, porém, teriam que decidir e pagar tudo em até  24 horas, caso contrário, perderiam o nome, lamentável!

Foi aí que a veia empreendedora pulsou e eu decidi que iria abrir a minha própria empresa de marcas e patentes. No ano de 2002 nasceu a Martins e Fernandes Marcas e Patentes.

Porém, eu não tinha a mínima ideia do quanto era difícil abrir e manter o negócio funcionando corretamente.

A falta de experiência, orientação e escolaridade pesaram e, em meados de 2004, eu vi meu sonho ser destruído de uma maneira muito triste. Naquele momento eu perdia minha empresa, perdia minha credibilidade perante os fornecedores, empresas de crédito e bancos. Fiquei desacreditada diante da minha família e amigos.

Nesse momento tão difícil, eu conversei com Deus, pedi sabedoria e coragem para começar tudo de novo, coloquei meu currículo à disposição das empresas de marcas e patentes e logo surgiu uma vaga, na qual trabalhei por três anos. Durante esse tempo fui atrás de informações, aprendi muito sobre administração, paguei as dívidas que eu havia adquirido pela minha falta de experiência e fui me organizando para retornar com o meu negócio!

Em 2007, nasce a minha filha e a empresa Martins e Fernandes Marcas e Patentes retorna as suas atividades com a seguinte missão, visão e valores:

MISSÃO – Ajudar nossos clientes a proteger e fortalecer a marca do seu negócio no mercado com exclusividade em patamar nacional, por meio do registro de marcas e patentes concedido pelo INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

VISÃO – Ser reconhecida pela excelência no seu atendimento por seus clientes, fornecedores e colaboradores.

VALORES – Compromisso, trabalho em equipe, transparência dos serviços, inovação e respeito.

A equipe e eu fazíamos a captação de clientes diariamente, visitas nas empresas que demonstravam interesse em contratar o serviço, voltava, executava o requerimento do registro, ia ao INPI pessoalmente para entregar a documentação, depois buscava, digitalizava tudo e entregava o protocolo do INPI para o cliente, em seguida partia para novas captações.

Entre um trabalho e outro havia também trocas de fraldas, o preparo de mamadeiras, banho, remedinho para dor de barriga, preparo de café, almoço, janta, roupas na máquina, limpeza de casa. É, amigos, não é fácil empreender com três filhos, a correia era grande!

Em meio ao dia a dia os clientes iam surgindo, eu não sabia, mas eu estava prestes a transformar a brincadeira de criança com papéis em realidade! Uma carteira de clientes se formou, então, senti segurança para alugar uma pequena sala comercial. Nessa data começou uma outra batalha que era montar uma equipe de verdade. Para crescer precisamos de braços!

A ajuda chegou por meio do meu filho mais velho que aceitou trabalhar comigo, ele trouxe para a empresa novas ideias, como a divulgação do nosso negócio na internet, redes sociais, Google e outras novidades que ajudam muito no crescimento do nosso negócio. Atualmente, ele está formado em Marketing e eu vejo o quanto ele gosta de elaborar estratégias para conceituar ainda mais a marca Martins e Fernandes. Demoramos alguns anos para formar uma boa equipe, mas conseguimos.

No período mais crítico da Pandemia de Covid-19, os sócios (mãe e filho) não pararam de trabalhar, estudamos o mercado e enxergamos novos microempreendedores individuas e novas microempresas que nasciam do desemprego devido ao surgimento da Covid no mundo.

Com o objetivo de atrair essas novas empresas e contribuir com a cultura empreendedora no Brasil, os sócios criaram no período da pandemia a marca Registre Fácil Oficial para atender ao pequeno negócio com preço muito acessível, sem burocracia de vários documentos, todo processo de forma eletrônica, pagamento do serviço somente no deferimento e garantia em contrato de redepósito de uma nova marca caso o pedido de registro não seja aceito pelo INPI.

Atualmente a Martins e Fernandes – Marcas e Patentes, que um dia chegou à beira da falência, é referência na área de propriedade intelectual, conquistou muitos clientes e parceiros, como o SEBRAE-SP e o CIESP.

A REGISTRE FÁCIL PARA PEQUENAS EMPRESAS TAMBÉM É UM SUCESSO!

Deixo aqui uma frase que para mim é um ensinamento:

“Faça o seu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor ainda!” Mario Sergio Cortella, filósofo.

Silvia Martins, Fundadora da Martins&Fernandes Marcas e Patentes.